Desde que resolvemos apartar-nos
Não ser bicho para ser a criatura
Ser senhor e rei de rio e prado
Vigiando tudo das alturas
De torres feitas de arrogância
Possuindo em cercas de monocultura
E num exercício de ganância
Tentar vencer a morte cavando sepulturas
Nos trancamos dentro de uma sala
E por dentro a porta não tem fechadura
Condenamos e nos autocondenamos nela –
Sala-cela –, ao nos enjaularmos na cultura
Não tem volta, essa porta é só de entrada
Por dentro a porta não tem fechadura
A porta, não vamos sair por ela
Deixá-la e atravessar a sala escura
Tateá-la, acender uma vela
Ver cada buraco e rachadura
Chegar bicho ao lado oposto da cela
Malandro saltar rima e a janela
E ver a cultura do lado de fora
(do amplo espaço da realidade, maior e mais diversa que as quatro paredes de conceitos e estruturas que mais matam que entendem)
E estar pronto para viver só o agora.